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Arquiteto Urbanista e Jornalista, premiado como artista visual, animador, roteirista, quadrinista, bonequeiro e gestor social.
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    Entrevista: Cako Facioli, dos Emoticons e de emoções

    Cako Facioli faz parte do time desenvolvedor de Emoticons do Skype. O artista brasileiro, ilustrador, escultor e animador, que vive há mais de uma década com a família nos arredores de Londres, também é tocador de flauta, atirador com estilingue, construtor de asas-delta para insetos, pai do Robin Arryn de Game of Thrones, piloto de monociclo e uma das pessoas mais brilhantes com as quais já tive contato. Confira a entrevista!

    Cako, direto ao ponto: como é seu processo de geração de ideias?

    Na escultura ou no desenho, sempre começo com lápis e papel. Fico só rabiscando, rabiscando e rabiscando coisas engraçadas que me façam rir, até que apareça um personagem no meio dos rascunhos que eu entenda que dá para desenvolver em uma história. A base é o humor, a diversão, sem medo do ridículo.

    Mas como é essa coisa de criar signos que traduzam as emoções e tornem o texto das mensagens mais humanizado, como no caso dos Emoticons do Skype?

    É um desafio legal. No Skype eu sou um dos diretores de arte e animador sênior de Emoticons faço parte de uma equipe de cinco pessoas. A gente cria “personagens” e variações para todas as datas comemorativas do mundo, de Dia das Mães a Ano novo Chinês e também procura lapidar o portfólio, procurando o que falta no espectro de representação de sentimentos que já temos.

    Por mais simples que um Emoticon pareça, sua importância na comunicação atual é muito grande e por isso, sabe-se que o nível de exigência da Skype é muito alto. Quais são as fases dessa produção?

    O pedido sempre vem a partir de análises do contexto. Aí, fazemos os rascunhos, cada artista do seu jeito e começa um processo coletivo com um brainstorm, seguido de uma reunião de filtragem. Nosso foco são as ideias mais versáteis que possam se encaixar em várias situações – é como peneirar ouro, cada um com a sua peneira diferente, mas no mesmo rio!

    Então, algumas ideias são “gongadas” logo de cara e outras aceitas. Fechamos as artes em vetores (Flash ou Illustrator). O nível de exigência é tão alto que mesmo para as animações mais simples, observamos atores, objetos e animais de verdade e nos baseamos em seus ritmos.

    Terminada essa fase, o material segue para uma nova aprovação. A proposta escolhida ainda passará por um estudo de adequação às diversas culturas do mundo, no qual uma equipe especializada checa se pode haver algo ofensivo e qual é o seu grau de aceitação. Só então, é publicada chamando a maior atenção possível.

    No meio de tantas carinhas e expressões, há algum trabalho preferido ou um preterido?

    Bom, nos últimos três anos eu já participei da elaboração de mais de 200 Emoticons. Não sei, mesmo… acho que o mais bacana surgiu de uma pesquisa do Twitter e tomamos por base as sugestões dos usuários. A ideia vencedora foi a de um Bicho Preguiça, que se move bem devagarinho e a gente não tinha sequer pensado nisso ainda! (veja o making of)

    Ah! Teve também uma série baseada em trechinhos de guitarra criados e gravados pelo Paul MacCartney para o Dia dos Namorados, em que cada som representava um tipo de amor (veja o making of).

    Então, é difícil escolher o que mais gostei, mas é fácil apontar o que me causou mais sofrimento (risos).  Assim que entrei na empresa, me pediram para animar o desenho de outro artista e me bateu a insegurança. Sofri. O personagem era um Smile relativamente simples, com roupinha de Papai-Noel. No final, deu tudo certo, mas foi um momento meio nervoso!

     

    Sobre essa questão da insegurança x a vontade de fazer, lembro que logo que chegou à Inglaterra, você passou por uma situação parecida na Aardman Animations (Walace & Gromit,  Fuga das Galinhas, Operação Presente)

    Pois é… desde sempre eu sou free-lancer. Saindo do Brasil, juntei meu portifólio com as coisas da Super-Interessante, Mundo estranho, revista Recreio, as capas de livros e tal e  mandei para Deus e o Mundo. Eu estava mexendo nas últimas caixas da mudança e o telefone tocou. Como eu não entendia direito porque na época o meu inglês era macarrônico, eu só ia aceitando e agradecendo: “Yes, yes, of couse, wonderfull!”. Anotei o endereço e só no final é que eu entendi que se tratava da Aardman. As pernas até bambearam!

    Chegando lá, foram muito gentis e me disseram que eu iria participar de um teste remunerado para a animação Creature Comforts. Seriam duas semanas animando um tal de Meercat, que eu só fui descobrir que significava Suricate quando já estava dentro do meu mini estúdio. Me deram  uma câmera, um programinha de stop-motion, uma caixa contendo o boneco com dezenas de peças intercambiáveis e uma página que dizia frame a frame que letra o bicho deveria estar pronunciando. Era a segunda vez que eu animaria em stop-motion e eu não falava o idioma direito.

    Pensou em desistir?

    Ah, não! Eu queria muito aquele trampo. No primeiro dia, fiz uma besteira e apaguei todo o trabalho do HD. Tive cólica, passei mal durante as duas semanas, mas fui até o fim. Soube depois que passei na seleção de 300 para 17 e só não fui escolhido para a equipe final de quatro animadores por apenas uma cabeça. Fiquei chateado, mas também feliz. A persistência valeu a pena: anos mais tarde, fui convidado pelo estúdio para modelar a mãe do filme Operação Presente.

    Com uma arte tão apurada e impactante, qual é a fórmula para não cair na repetição de si mesmo?

    Por mais que goste do meu trabalho, o marasmo sempre acaba batendo quando a gente descobre “a fórmula”. Como um antídoto, eu procuro observar com atenção os objetos do dia-a-dia e dar uma nova forma para eles. Uma vez, acompanhando minha mulher a um brechó de roupas, olhei ao redor e encontrei uma caixinha de xadrez. Na hora que peguei o bispo eu vi um porco. “Vou levar, isso é ouro!”. Fiz, postei no Instagram e o povo gostou. Aí, foi meio que compulsivo, fazer pelo simples prazer de fazer e mostrar. Olhei para a torre e vi um cinzeiro. Dos cavalos, um virou uma carranca bem brasileira, outro virou um raio-x e outro, um cavalo de Troia. Os detalhes foram aumentando enquanto eu diminuía as esculturas e assim, foi. Tudo pra me divertir. Virou até animação. Amigos dizem que eu deveria produzir em massa, mas aí, viraria trabalho e se repetiria, né? Não sei.

    Você citou o passeio com sua esposa. Apesar de ser completamente “biruta” na hora de criar, você é um homem pacato, muito ligado à família. Queria que você falando um pouco sobre esse suporte.

    A Kika, o Lino e eu… a gente funciona em simbiose, se apoiando em tudo. Às vezes, fica difícil entender o que é de um e o que é de outro. Eu me apaixonei por ela quando vi os animais de arame que ela fazia, ela também já fazia joias, deu eco.

    Quando o Lino nasceu a gente era moleque, trabalhava em casa e ele ficava juntinho, vivendo esse caldeirão. Desde pequeno ele adorava se fantasiar, imaginar as coisas diferentes e aí, juntou a fome com a vontade de comer! Hoje, ele sabe que arte é um caminho duro. Apesar de ter feito filmes, de ter atuado em GoT, ainda pensa se vai seguir a diante, mas já desenha melhor que eu!

    Seu pai e sua mãe também são criativos pra chuchu, concorda?

    Claro! Meu pai era protético e aviador. Fazia histórias em quadrinhos pra gente e contava que se arrependia de não ter dado continuidade ao trabalho na editora abril. Nos anos 60, ele arte finalizava o Mandrake. A gente vivia lendo e copiando a revista Mad, assistindo Monty Python.

    Eu vivia fuçando no laboratório do meu pai, nas ceras, nos materiais de fazer molde, nos livros de anatomia. A gente ia passear em loja de material de desenho. O primeiro livro que comprei com ele, e animação do Preston Blair por U$2,50, me influencia até hoje.

    Minha mãe é outra figura. Eu tinha uma tia carola e uma avó que viviam me dando Bíblias, sério, umas três por ano, Natal, aniversário e Dia das Crianças… porque achavam que eu desenhava monstrinhos demais. Um dia, uma professora do prezinho chamou minha mãe e disse que eu deveria ter algum problema. Minha mãe tranquilizou a professora e colou meus desenhos na geladeira.

    Ah! E tinha também meu avô, um outro cara fuçado, que fazia uns bonequinhos que se moviam com o vento.

    Você gostaria de responder alguma pergunta que eu não fiz?

    Cara, acho que tô falando demais, né? Vai ficar enorme. Mas eu quero contar uma história:

    Quando eu era pré-escolar, vi num livro de ciências do meu irmão uma gotinha explicando o sistema circulatório. Ela tinha cara, perninhas, falava…pirei! Comecei a desenhar por todo canto as gotinhas na guerra, como se fossem soldadinhos com armas e uniformes militares. Um dia, sobrou um pedaço de cera odontológica na minha mão e eu esculpi a tal gotinha. Meu pai fez o molde e a gente criou um exército em acrílico. Ele até fundiu uma em metal, linda, que se perdeu com o tempo, mas que eu guardo na memória para sempre.

     

    Acompanhe o trabalho de Cako Facioli:

    http://www.cakofacioli.com/

    https://www.behance.net/CakoFacioli

    https://www.instagram.com/cako_facioli/

     

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    comentários

    Cordeiro de Sá